TE ou FIV: qual biotecnologia de reprodução ovina escolher?

TE ou FIV qual biotecnologia de reprodução ovina escolher

A fim de auxiliar criadores em seus trabalhos diários nas cabanhas, a equipe de comunicação da ABCDorper traz explicações de especialistas sobre duas das mais modernas técnicas para favorecer a reprodução, sendo elas a transferência de embriões (TE) e a fertilização in vitro (FIV)

O uso de biotecnologias para a melhora do desempenho reprodutivo de ovinos já é uma realidade cada vez mais presente dentro das propriedades do País. Sobretudo, porque tais técnicas contribuem decisivamente para o aumento da produção e, principalmente, da lucratividade dos rebanhos comerciais como de elite. Mas, apesar de algumas biotecnologias existirem há mais de 50 anos, quando o assunto é a ovinocultura há técnicas que já possuem grande aplicabilidade, como é o caso da transferência de embriões (TE), enquanto outras ainda estão em fase de aperfeiçoamento ou mesmo precisam desmistificar certos preconceitos para serem amplamente utilizadas, como a fertilização in vitro (FIV).

Diante disso, a equipe de comunicação da ABCDorper resolveu conversar com alguns especialistas em biotecnologia de reprodução ovina a fim de apresentar aos criadores as vantagens e desvantagens de ambas técnicas. Para que assim, cada um possa consumir informação de qualidade sobre o setor e, assim, se for caso, abrir a mente para novas ideias a serem aplicadas na atividade pecuária.

Antes de mais nada vale esclarecer que as biotecnologias de reprodução em ovinos mais utilizadas, hoje em dia, são, em ordem de números de procedimento: Inseminação Artificial por Laparoscopia (IAL), múltipla ovulação (MO, transferência de embriões (TE) e fertilização in vitro (FIV). Contudo, nesta reportagem vamos nos concentrar apenas em abordar mais profundamente a TE e a FIV, deixando para uma próxima matéria explanações sobre a IAL e a MO.

Transferência de embriões x Fertilização In Vitro

A transferência de embriões consiste em uma técnica que permite recolher embriões de uma fêmea doadora e transferi-los para fêmeas receptoras. Basicamente, a doadora é induzida a superovulação por meio de tratamento hormonal e os óvulos obtidos são fertilizados dentro da doadora. Depois que os embriões se desenvolvem, são removidos para serem implantados na fêmea receptora para concluir o tempo de gestação restante.

De acordo com Amin Jabur Filho, médico veterinário e gerente administrativo da cabanha Five Stars, a TE é uma técnica de maior conhecimento e utilização pelos criadores de ovinos de uma maneira geral. Sobretudo, por existir uma disponibilidade maior do número de profissionais capacitados realizando o procedimento, seja em centrais de reprodução ou nas próprias cabanhas.

“Existe uma tradição e experiência maior nesse procedimento. Além disso, temos também a possibilidade da utilização de sêmen a fresco/resfriado dos reprodutores com um resultado final superior ao de sêmen congelado (não que este não possa ser utilizado). Utilizamos TE há aproximadamente 13 anos [na Five Stars]. Então, temos uma experiência e utilização maior com transferência de embriões”.

Já a Fertilização In Vitro é uma biotécnica que consiste na coleta dos gametas para que a fecundação seja feita em laboratório e depois na transferência desses embriões de volta para o útero. Ainda de acordo com Amin, o método permite uma utilização precoce e com maior constância das fêmeas (doadoras). “Sendo possível de realiza-lo a cada 30 dias, com isso potencializando e maximizando o aproveitamento dessa doadora”, cita.

A médica veterinária Letícia Alecho Requena reforça o aumento do volume de nascimentos a partir da FIV. “Os procedimentos podem ser feitos uma vez ao mês. Já a TE pode ser feita em um intervalo maior, de 3 meses, por ser um procedimento mais invasivo. Então, se considerarmos que uma fêmea pode ser coletada cerca de 3 vezes ao ano na TE convencional, com uma média de 24 a 30 embriões/ano, na FIV esta mesma fêmea pode ser colhida uma vez por mês, resultando entre 48 a 60 embriões no mesmo período”.

Outras vantagens da utilização da FIV, ainda de acordo com Letícia, são: “Fêmeas que falham na TE convencional; com aderências fibrinosas no útero, devido às coletas e manipulações; senis e que já não respondem mais aos protocolos hormonais; e pós-parto. A duração do protocolo e o volume de hormônios aplicados nas doadoras são inferiores a TE. Além de não ser necessário fazer uma laparotomia (exteriorização do útero) na fêmea, também conseguimos lavar os ovários eliminando eventual sangue em volta deles. Isto evita significativamente as aderências e permite uma maior longevidade reprodutiva à doadora”.

Quando utilizado doses de sêmen de alta qualidade, Letícia cita que é usado apenas uma dose para até 10 doadoras. “Isto traz uma economia de custo de dose e permite que o produtor invista em um reprodutor geneticamente melhor, agregando essa genética a um maior número de fêmeas. Porém, quando o sêmen é de baixa qualidade, isto pode interferir diretamente e de forma negativa na produção dos embriões, tornando a taxa de clivagem baixa em alguns casos”, acrescenta.

Com relação ao custo, a médica veterinária Carolina Ceretta cita que o custo da FIV é muito mais barata do que de TE. “Enquanto a FIV um protocolo sai R$ 227 por doadora, a TE está em torno de R$ 600. “Aí o criador pode até falar ‘Mas como a TE é mais consagrada, eu vou conseguir mais embriões numa lavagem. Por isso, eu não faço a FIV’. Mas espera aí, você vai conseguir 15 embriões viáveis numa ovelha muito boa na FIV. Nesse tempo de 3 meses que você vai ficar parado, se você aspirar ela todo mês, já que a ovelha é boa de produção, com certeza vai superar esse número com um investimento muito mais baixo, porque o protocolo é mais barato. Eu acho que compensa e compensa muito”.

Desmistificando a FIV

Apesar das vantagens apresentadas anteriormente da FIV na reprodução ovina, existe uma resistência por parte dos criadores para a sua utilização. A médica veterinária Carolina Caretta acredita que seja porque a FIV não é uma técnica tão consagrada ainda no mercado, haja vista que não existem tantos estudos da técnica em ovinos como há em bovinos.

“Além disso, os criadores têm a ideia ainda que um animal que vai pra FIV é um animal velho, que não responde a um protocolo de TE. E isso acaba até impossibilitando que a gente estude e melhore ainda mais a FIV. Quando a gente tem um grande número de animais conseguimos ajustar melhor a técnica, com mais eficiente e até mesmo por raça, assim como acontece nos bovinos. A gente precisa que os criadores entendam que a FIV é uma técnica interessante e que tem um universo gigantesco de possibilidades”.

Amin acrescente dizendo: “existe uma falta de conhecimento e experiência dos criadores para a utilização da produção de embriões in vitro, pois todas as informações procedem de criadores que utilizaram esta técnica apenas em última instância, ou seja, em doadoras que estão inaptas para a utilização da técnica de TE seja por aderência uterina, estenose de trompa, aderência ovariana. Questões essas que diminuem o êxito da produção in vitro. Quando na verdade, essa técnica deveria ser exercida nas fêmeas “limpas”, sem complicações antecedentes onde teríamos com certeza um êxito maior nos resultados. ”

Letícia Alecho Requena ainda lembra que os criadores ainda estão com um pouco com receio da técnica, pois antigamente os meios de cultivo de bovinos eram adaptados para os ovinos. Com isso, os resultados de produção não eram consistentes e os poucos animais que nasciam tinham problemas de gigantismo, devido à quantidade de soro fetal utilizada nos meios. Além disso, cordeiros morriam com muita facilidade.

Contudo, hoje em dia, os problemas de gigantismo e alta mortalidade dos cordeiros de FIV. foram eliminados. Ainda, a técnica de aspiração folicular foi otimizada, tornando a FIV de pequenos ruminantes uma técnica segura, de acordo com a veterinária. “Precisamos desmistificar esses problemas ocorridos de anos atrás e mostrar que a FIV consegue completar o ciclo reprodutivo nos pequenos ruminantes, com um menor custo por produto nascido e maior segurança à vida reprodutiva da doadora”, finaliza.

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Por Natália de Oliveira/Agrovenki
Crédito da foto em destaque: Arquivo pessoal/Letícia Alecho Requena 

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