“O Dorper no Brasil”: como é a criação no Nordeste?

Criação no Nordeste

ABCDorper lança uma série de reportagens especiais para falar sobre a criação das raças Dorper e White Dorper em quatro regiões do país

A fim de abordar as diferenças nas criações das raças Dorper e White Dorper em quatro regiões do país, sendo Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, a equipe de comunicação da ABCDorper lança agora uma sequência de reportagens especiais. Trata-se da Série “O Dorper no Brasil”, que, nesta primeira reportagem, irá destacar a criação no Nordeste.

Para tanto, a equipe de comunicação buscou conversar com alguns criadores para entender sobre o manejo, as dificuldades, bem como as vantagens de se criar o Dorper e o White Dorper em pleno semiárido nordestino. Região marcada por altas temperaturas, chuvas escassas, mal distribuídas e com longos períodos de estiagem.

Mas antes de falarmos sobre a criação no Nordeste, vale lembrar alguns dados importantes. Em 2018, o Brasil alcançou o maior rebanho da raça Dorper PO do mundo, com 122.500 animais, de acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO). São mais de 800 criadores espalhados por todos os estados do país.

Atualmente, são cerca de 140 mil animais registrados e 1.000 criadores espalhados por 21 estados brasileiros. Tais números mostram a vasta distribuição da criação das raças pelo país que, em virtude da sua grandeza territorial, com uma área de 8.515.767 km² aproximadamente, é considerado continental. Ou seja, comparável com a área de um continente, com ampla diversidade ambiental e climática.

Nordeste tem aptidão e competência na criação de Dorper – Foto: Divulgação/Rebanho Buriá

Principal dificuldade na criação nordestina

De acordo com Luiz Teixeira, da Rebanho Buriá, localizado em Senhor de Bonfim/BA, o maior problema da criação das raças Dorper e White Dorper começa na fase de estruturação. Afinal, para estruturar uma criação é necessário ter uma produção de alimentos. E isso depende de chuva e de regularidade de clima. “Tem que alimentar bem os animais de genética para que eles mostrem o melhor do potencial de desenvolvimento deles ao longo da sua vida e o que a genética trouxe para eles. Sem uma boa alimentação, a genética não se manifesta. Esse é o primeiro ponto”.

Augusto Sérgio de Oliveira Barbosa, titular da Cabanha Lage da Cruz, de Itiúba/BA, reforça dizendo que, de fato, a escassez de chuvas regulares e clima muito quente prejudicam muito a alimentação adequada dos animais. “Isso causa aumentos dos custos, principalmente da ração e feno”.

Como alternativa, alguns criadores plantam milho e outros produtos para baratear a ração nos períodos de chuva, estocando para o período de seca. Mesmo assim, Sidney de Andrade Almeida, do Rebanho LCB, de Rio Largo, Alagoas, conta que fica refém dos altos preços dos insumos. “Pois além da alta do dólar que influi diretamente nos grãos e sais minerais, ainda temos o alto valor do frete do sul para o Nordeste”, cita o produtor alagoano.

“É muito difícil pra gente se impor nesse item que é o custo alimentar e de produção. Se você não tiver a chance de verticalizar [produzir internamente tudo o que puder], é muito difícil você fazer uma estrutura rentável e produtiva no carneiro. Você tem que ter verticalizada a sua produção de alimentos, porque se não fica inviável se você tiver de comprar tudo”, reforça Luiz Teixeira.

Vantagens na criação no Nordeste

No quesito vantagens na criação no Nordeste, Teixeira cita o sol e o calor, que são favoráveis ao carneiro. “Ele adora o tempo seco, principalmente se tem comida, se tiver comida e sol, maravilha ele vai ficar bonito, sedoso, gordo, produtivo. Mesmo com a adversidade climática, o carneiro se vira, sobrevive”.

Além disso, a vegetação nativa da região, a chamada caatinga, também pode ser uma forte aliada na criação de ovinos. Afinal, tratam-se de plantas cactiformes, ou seja, elas enfloram na época chuvosa e na seca caem todas as folhas, ficando só galho seco. Mas os ovinos se alimentam dessas folhas que caem.

“Isso é um cenário de guerra, o de extrema seca, que é onde a gente consegue passar onde o bovino não passa. Por isso, a nossa aptidão e competência aqui no Nordeste é para o caprino e ovino. Uma região fantástica de produção de ovinos e caprinos para fornecer para esse Brasil todo”, cita Teixeira.

O que os criadores nordestinos sentem faltam?

“Falta de mão de obra qualificada”, essa foi a resposta comum entre os criadores entrevistados nesta reportagem. Para eles, um dos principais desafios da criação das raças no Nordeste é conseguir montar uma equipe capacitada. “Precisamos de mão de obra treinada, faltam programas de capacitação técnica. Além disso, não há disponibilidade de assistência técnica. Muitos começam e desistem”, frisa Augusto Barbosa.

Teixeira reforça que a maioria dos trabalhadores não possuem, de fato, conhecimento tecnológico e científico dos manejos. Contudo, cita um outro problema recorrente nesta situação: a mal remuneração. “90% da criação de ovino no semiárido do Nordeste é do pequeno criador familiar que a usa como subsistência. Esse pequeno criador é explorado de alguma maneira, por atravessadores que remuneram mal e isso vai restringindo o nosso mercado para o consumidor local”.

Para solucionar este problema, Sidney de Andrade Almeida acredita que somente através da união do grupo criadores. “Para que nossa querida raça Dorper cresça cada vez mais, pois ela já mostrou por si só que se destaca na produção de carne ovina no país. Lembro de uma visita a um grande projeto de produção de carne ovina que visitei em 2014, no Rio Grande do Norte, onde o proprietário me falou a seguinte frase: meu projeto só se tornou viável após a introdução da raça Dorper no plantel”, finaliza

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Por Natália de Oliveira/Agrovenki
Crédito das fotos: Divulgação/Rebanho Buriá

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