Brasileiros participam da Exposição Mundial das Raças Dorper e White Dorper na África do Sul

Brasileiros participam da Exposição Mundial das Raças Dorper e White Dorper na África do Sul

Em entrevista ao Departamento de Comunicação da ABCDorper, alguns dos participantes compartilham seus insights e impressões da edição deste ano do evento no país que é berço das raças Dorper e White Dorper

Entre os dias 30 de abril e 3 de maio, aconteceu em Bloemfontein, na África do Sul, o evento conhecido como Dorper and White Dorper World Championship Show 2024. Um grupo de brasileiros marcou presença na exposição, com o objetivo de absorver mais conhecimento, trocar experiências valiosas e estreitar laços com criadores do país sul-africano, que é berço das raças Dorper e White Dorper.

Marcaram presença no evento vários criadores das raças, de norte a sul do país. Também estavam presentes Regina Valle, Diretora Técnica da Associação Brasileira de Criadores da Raça Dorper & White Dorper (ABCDorper), Danilo G. Abbondanza, Giancarlo Antoni e Wilson G. Braga Júnior, sendo os três membros do Colégio de Jurados da ABCDorper.

Para entender um pouco mais sobre essa experiência única, o Departamento de Comunicação da ABCDorper conversou com alguns dos participantes do Dorper and White Dorper World Championship Show 2024. Confira abaixo as entrevistas, onde os criadores compartilham seus insights e impressões sobre o evento:

grupo de brasileiros na Africa do Sul Dorper (3)

Márcio Afonso Cordeiro, da Kaiowas Dorper, de Itapetininga (SP)

Márcio Afonso Cordeiro, da Kaiowas Dorper, descreveu a experiência como única e enriquecedora. Em suas próprias palavras, ele afirmou: “Sempre uma experiência única, agregando mais conhecimento, observando o modo de criar de pessoas experientes e de um ambiente totalmente diferente do nosso. Conhecer novos criadores e estreitar relação com aqueles que já conhecemos”.

Quanto aos momentos de destaque, Márcio enfatizou a oportunidade de acompanhar de perto as conquistas dos criadores admirados e a descoberta das linhagens dos animais que mais impressionaram na exposição. Ele expressou entusiasmo ao mencionar que alguns desses animais possuíam genética semelhante à que já existe no Brasil, possibilitando projetar acasalamentos promissores.

Sobre as diferenças entre a criação das raças no Brasil e na África do Sul, Márcio apontou para o longo caminho que o Brasil ainda tem a percorrer em relação à padronização dos rebanhos. “Vejo claramente que diversos criadores brasileiros ainda não têm total conhecimento do próprio rebanho, fazendo acasalamentos indiscriminados e perdendo em consistência genética, que é o que traz padronização”, pontua.

Além disso, ele ressaltou a superioridade do sistema de julgamento sul-africano em termos de eficiência, rapidez de resultados e dinamismo, enfatizando que os animais são julgados em liberdade, proporcionando uma avaliação mais precisa de sua real condição.

Ricardo Teixeira, da Dorper Buriá, de Senhor de Bonfim (BA)

A experiência de participar da Exposição Nacional das Raças da África do Sul é sempre inovadora e surpreendente, segundo Ricardo Teixeira, criador da Dorper Buriá. Presente nos anos de 2016, 2018 e agora em 2024, Teixeira observa a evolução e padronização da raça Dorper em diversos criatórios, tanto dos mais antigos quanto dos mais novos.

“Durante o evento, vivenciamos diversos momentos marcantes”, destacou Teixeira. Um dos destaques foi o julgamento da categoria, onde o grande campeão nacional foi BLAZE, do criatório Nell Dorpers. “Um animal que chamou bastante atenção pela sua expressão racial e volume, nos deixando na expectativa de que ganhasse a categoria e se tornasse no outro dia, o Grande Campeão da raça”.

Teixeira contou ainda que, após a categoria, pediram para tirar uma foto com o animal, comentando que ele seria o grande da raça. Para ele, participar deste evento é uma oportunidade valiosa para obter informações novas sobre manejo, alimentação e padrão racial, entre outros inúmeros benefícios para todos os criadores.

Regina Valle, Diretora Técnica da ABCDorper

Regina Valle participou pela quarta vez da Exposição Nacional das raças Dorper e White Dorper na África do Sul. “Como sempre, os animais dão um show à parte! Como o evento ocorre a cada dois anos, é sempre uma grande expectativa para conhecer os grandes campeões”, disse Valle.

Segundo ela, o evento é marcado por uma dinâmica única de julgamento, com dois trios de jurados. “Um trio julga os animais da raça Dorper, enquanto outro trio julga os animais White Dorper. O julgamento das duas raças acontece ao mesmo tempo em pistas paralelas: enquanto um trio faz a avaliação geral na pista maior, o outro está fazendo a classificação dos animais da outra raça na pista menor; e assim vão revezando até o final”, explicou.

Entre os momentos mais memoráveis deste ano, Valle destacou o equilíbrio no julgamento do Dorper. “Diversos criadores obtiveram campeonatos: criadores de renome internacional e conhecidos aqui dos brasileiros e outros nem tão conhecidos por nós. A diferença de pontos entre os três melhores expositores foi de apenas um ponto entre eles, isso mostra como foi uma disputa muito equilibrada.” Para Valle, o grande destaque foi o carneiro Grande Campeão da raça White Dorper: “Um animal de beleza e funcionalidade inigualáveis”.

Comparando a criação das raças no Brasil e na África do Sul, Valle observou que “a qualidade racial dos animais brasileiros ainda não se compara ao que encontramos na Exposição, podendo até falar em número de animais. Algumas das fêmeas criadas aqui no Brasil até poderiam concorrer de ‘igual pra igual’ com as fêmeas de lá, mas nos machos realmente ainda estamos distantes”.

Durante o evento, Valle também fez descobertas importantes: “Pude verificar que alguns problemas relacionados à funcionalidade que temos observado aqui nos eventos brasileiros também estão presentes nos rebanhos sul-africanos. Em conversa com alguns inspetores sul-africanos, alguns dos problemas seriam características de algumas linhagens/famílias de reprodutores, que também temos presentes no Brasil, e que a maioria dos criadores sul-africanos sabem que são transmitidos”.

Para Valle, é crucial que o criador conheça bem seus animais e as linhagens com as quais está trabalhando. “É importante sempre avaliar os resultados dos diferentes acasalamentos e identificar os benefícios e os problemas”, concluiu.

Miguel Kalil, da Dom Miguel Genética, de Água de Lindoia (SP)

Miguel Kalil, da Dom Miguel Genética, descreveu a experiência como extraordinária e profundamente enriquecedora. “Foi uma experiência incrível e enriquecedora. Desde a imersão na cultura local até a oportunidade de aprender e trocar experiências com os mais experientes e melhores criadores do mundo, cada momento foi uma oportunidade de aprofundar meu conhecimento sobre as raças Dorper e White Dorper”.

O titular da Dom Miguel Genética destacou dois momentos memoráveis durante o evento: a oportunidade de acompanhar os julgamentos de cada categoria e a qualidade impressionante dos animais, ano após ano. “No julgamento de cada categoria, a ausência de cabresto e a análise dos animais soltos permitem que todas as características sejam avaliadas corretamente. Essa abordagem proporciona aos juízes uma visão completa do animal da forma que ele é. Essa maneira de julgar permite uma avaliação mais precisa e justa de cada animal, garantindo que apenas os melhores e mais corretos se destaquem”, ressalta.

Sobre o julgamento do Grande Campeonato, Miguel relembra que a atmosfera era carregada de emoção e expectativa, enfatizando que esse momento celebrava não apenas a excelência genética e a qualidade dos animais, mas também o trabalho árduo e a dedicação dos criadores. “Foi um momento que fica gravado na memória de todos os presentes, reforçando a importância dessas raças para a pecuária sul-africana e inspirando a todos nós”.

Ao discutir as diferenças entre o Dorper e o White Dorper na África em comparação com o Brasil, Miguel ressaltou a questão da qualidade versus quantidade. Ele observou que, na África, a qualidade dos animais, especialmente dos machos, é notavelmente superior devido a programas de seleção genética rigorosos e uma longa tradição na criação dessas raças. No entanto, no Brasil, embora haja uma quantidade considerável de animais, a qualidade geral, especialmente dos machos, ainda está aquém do ideal.

Miguel enfatizou que participar de eventos como a exposição das raças Dorper e White Dorper na África proporciona uma rica fonte de conhecimento e experiência, que certamente influenciará e será aplicada na criação no Brasil. Ele expressou seu compromisso em implementar esses aprendizados na criação no Brasil, destacando sua importância para o contínuo desenvolvimento e sucesso da indústria pecuária no país.

Pedro Ortiz, da Cordeiro Medalha, de Rolândia (PR)

Pedro Ortiz, da Cordeiro Medalha, também compartilhou sua experiência, destacando a importância e o impacto desse evento. “Foi a segunda vez que eu estive lá, a segunda nacional que eu acompanhei. Agora com muito mais critério técnico e foi muito proveitoso. É uma exposição muito tradicional e muito forte na África do Sul, que agrega criadores importantes do mundo inteiro”.

Durante o evento, Ortiz identificou a homogeneidade e a qualidade genética dos animais sul-africanos como destaques significativos. “Tem um trabalho de muito critério genético que eles fazem. Então, a gente consegue ver consistência em muitos indivíduos. Isso foi um marco pra mim, além de perceber que o trabalho que a gente está fazendo no Brasil está seguindo a mesma linha”.

Questionado sobre como o evento contribuiu para suas reflexões sobre as diferenças entre a criação de ovinos no Brasil e na África do Sul, o titular da Cordeiro Medalha explica que essa comparação é difícil de fazer, porque envolve questões culturais, sobretudo, pela intensidade do consumo de carne de cordeiro na África do Sul em comparação com a realidade brasileira.

“Por exemplo, em qualquer lugar que você lanchonete, restaurante de lá, há opções no cardápio com carne de cordeiro. Quase em todas as paradas, é possível encontrar uma torta de cordeiro para saborear. Isso ilustra como a África do Sul vive intensamente o consumo da carne ovina”, explica Ortiz, ressaltando a dificuldade em comparar a produção brasileira com a sul-africana devido à diferença de volume do rebanho.

E acrescenta: “Então quando a gente vai comparar, é muito difícil porque a cadeia nossa ainda é pequena na comparação com a deles. A gente vê 100 animais numa categoria onde são selecionados 25 muito bons e 15 muito excepcionais. Aqui no Brasil numa categoria de 30 você vai ter três indivíduos excepcionais, talvez seis muito bons. Então quando a gente compara, é muito difícil pelo volume”.

Por fim, Pedro Ortiz ressaltou a importância de absorver aprendizados e buscar orientação para continuar aprimorando a criação de ovinos no Brasil. “Foi reconfortante perceber que estamos no caminho certo. Isso foi o mais importante para mim. Eles também demonstraram grande apreço pela nossa criação e pelos animais de qualidade que temos no Brasil. Portanto, esta experiência foi muito mais enriquecedora do que da primeira vez. Sempre trazemos consigo uma grande bagagem de aprendizado, fundamental para orientar nossa criação. Em certos momentos, precisamos de uma direção clara, não é mesmo? Portanto, esse feedback foi extremamente valioso”, finaliza.

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Por Natália de Oliveira/Agência Agrovenki
Crédito da fotos: Divulgação

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