O criador de ovinos e jurado da Associação dos Criadores de Dorper da Namíbia, Philip Strauss, é quem compartilha o seu ponto de vista sobre o cenário mundial da raça
O Dorper é a raça ovina que mais cresce no mundo. Depois de ser desenvolvido na África do Sul, há mais de 60 anos, já é possível encontrar exemplares nos seis continentes. O Dorper foi criado para combinar a rusticidade das ovelhas Persian com a excelente qualidade de carne do Dorset Horn. O resultado foi um ovino que se desenvolve rapidamente, com uma carcaça de boa qualidade, em uma idade muito jovem. São animais capazes de sobreviver em condições difíceis e são relativamente resistentes a doenças.
Pelo fato de o Dorper ainda ser relativamente uma raça jovem, ela está em constante desenvolvimento e transformação. A maioria das mudanças é boa, mas alguns problemas têm surgido. Em primeiro lugar, existe um desejo constante para fazer um animal maior. Isso é bom até o ponto em que você não perde a funcionalidade. O resultado foi que alguns animais começaram a ter problemas para caminhar e nos aprumos das pernas traseiras. Nos últimos dois anos, este é, definitivamente, o tema das reuniões na África do Sul e Namíbia e tem sido solicitado aos inspetores para serem muito rigorosos neste aspecto.
O segundo problema é a quantidade de gordura corporal. Quando ovino é “seco” (magro), com pouca gordura corporal, precisa ser alimentado por um longo período de tempo para ficar “gordo” (acumular gordura), mas ainda assim terá bom equilíbrio corporal (balanço). Animais naturalmente com mais gordura corporal tendem a ser muito menos bonitos quando atingem esse patamar. Portanto, os ovinos mais “secos” (magros) podem se sair bem na pista de julgamento, porque igualmente a um animal grande e gordo com bom balanço, pode produzir uma bela “foto”. Mas os ovinos com mais gordura corporal apresentam uma maior adaptabilidade e resistência. É inútil ter um belo carneiro que não consegue sobreviver em condições normais de produção.
Ao julgar uma ovelha Dorper, há quatro coisas relevantes a considerar. O mais importante é a funcionalidade. O animal deve ser capaz de comer, andar e se reproduzir. Isso não é negociável. Se isso está correto, você olha para o equilíbrio (balanço), o “tipo” e qualidades de carne. Não importa o quão bonito é, se ele não é funcionalmente correto, não pode ser premiado no julgamento e você não deve usá-lo como reprodutor ou matriz.
Na Austrália, o Dorper tornou-se interessante, devido à sua capacidade de “perder” a lã. É muito trabalhoso tosquiar os ovinos e na Austrália, a mão de obra que realiza este trabalho é cara. Por causa do grande número de ovinos na Austrália, os criadores conseguiram aumentar rapidamente o rebanho Dorper e White Dorper e, agora, a Austrália tem exportado um grande número de embriões e animais vivos para países que não têm protocolo com a África do Sul ou Namíbia. Como a procura por um bom material genético é crescente, a Austrália está se destacando em todo o mundo.
O maior perigo para a raça Dorper, em países como o México e o Brasil, é que são animais muito caros e, portanto, estão se reproduzindo e sendo criados em situações de manejo intenso. A maioria dos animais não vai ao pasto emprenhar e parir naturalmente. Na minha fazenda na Namíbia, as ovelhas são cobertas pelos carneiros em um pasto de 500 ha. Elas parem os cordeiros a pasto e nós só os pegamos, rapidamente, depois do parto para marcá-los. Então só iremos vê-los novamente por ocasião do desmame.
Desta forma, podemos perder alguns cordeiros para os predadores ou por causa de dificuldades de parto ou ainda pela baixa habilidade materna da mãe, mas, assim, a seleção natural acontece e uma ovelha fraca não terá um cordeiro para levar sua genética adiante. Se você emprenha as ovelhas através de inseminação artificial e elas têm seu cordeiro em uma baia, onde eles serão alimentados e cuidados, você não terá nenhuma maneira de saber quais são as ovelhas mais férteis e com as melhores qualidades maternais. Estas são algumas das qualidades mais importantes pelas quais o Dorper foi criado e você corre o risco de perdê-las.
Por causa dos grandes rebanhos comerciais de Dorper na Namíbia e África do Sul, que usam reprodutores provenientes de criadores de animais puros, estamos constantemente recebendo “feedback” sobre características como rusticidade, adaptabilidade e fertilidade. Estas são características fundamentais para a raça Dorper e temo que você possa perdê-la se criar seus animais Dorper no cocho.
A situação ideal será se vocês tiverem muito mais criadores de rebanhos comerciais do que criadores de rebanhos de elite. O produto final deve ser o cordeiro que será abatido para consumo. Assim, os criadores de animais puros terão um mercado duradouro e permanente para seus carneiros e tornar seu rebanho financeiramente. Eu vejo um grande futuro para o Dorper no Brasil.