Com base em informações de uma pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), você fica por dentro da evolução de ambas as raças no país
A criação de caprinos e ovinos no Brasil teve início ainda durante o período de colonização do país. Portanto, esteve diretamente relacionada à influência portuguesa e espanhola. Voltados à produção de carne e de lã, os rebanhos de ovinos e de caprinos se concentraram, inicialmente, no Nordeste e Sul brasileiros, embora esta última região tenha perdido representatividade ao longo dos anos.
Em meados da década de 90, a queda dos preços da lã no mercado internacional desestimulou produtores sulistas, reduzindo o rebanho daquela localidade. Ao mesmo tempo, a atividade cresceu expressivamente em outras regiões, como no Centro-Oeste e Sudeste, voltada principalmente para a produção de carnes.
Em 1974, primeiro ano com informações do setor disponíveis pelo IBGE, o rebanho brasileiro de ovinos somava 18,87 milhões de cabeças. O recorde foi atingido em 1991, de 20,12 milhões de cabeças. Contudo, em 2019 (dados mais recentes), o rebanho correspondeu a 19,71 milhões de cabeças. Apesar da redução, desde 2003, tem havido uma recuperação do rebanho ovino, impulsionada, principalmente, pelo consumo crescente dessa carne.
Em relação aos caprinos, o rebanho brasileiro iniciou com 7,17 milhões de cabeças (em 1974), saltando para 11,30 milhões de cabeças em 2019. Assim como para ovinos, o maior rebanho de caprinos foi alcançado em 1991, de 12,17 milhões de cabeças.
Rebanhos regionais
Em todo o período analisado, o rebanho de ovinos diminuiu apenas na região Sul do Brasil. Haja vista que, até 1995, mais da metade do rebanho nacional de ovinos concentrava-se no Sul. Em relação aos caprinos, o rebanho diminuiu no Sul e no Centro-Oeste. Sendo assim, portanto, com maior concentração no Nordeste.
A região Sul é a segunda em relevância de rebanho, já que, historicamente, o Nordeste brasileiro é uma das regiões mais tradicionais para a criação de ovinos e caprinos no país. A rusticidade natural desses animais foi fator preponderante para o sucesso na adaptação às condições da caatinga.
Os animais criados no Nordeste são, em sua maioria, de raças nacionais adaptadas, resultado do cruzamento das raças introduzidas no período colonial pelos portugueses. Os ovinos ali desenvolvidos são tipicamente deslanados, englobando raças como Santa Inês, Morada Nova e Rabo Largo. Esses animais ganharam espaço em outras regiões do país, como a Sudeste e Centro-Oeste, e hoje são utilizados em cruzamentos que visam à produção de carne e couro.
O Cepea, em parceria com a CNA, através de reuniões com produtores locais, buscou caracterizar e definir quais seriam as propriedades e sistemas produtivos mais frequentes no Nordeste. Observou-se que a caprino e a ovinocultura são atividades secundárias à bovinocultura de leite. Nessas propriedades, a venda de ovinos e caprinos permite financiar a compra de insumos utilizados na criação de bovinos. De acordo com os produtores, a falta de uma estrutura organizada em toda a cadeia produtiva tem influência direta na rentabilidade da produção.
No Sul, a ovinocultura ganhou caráter econômico expressivo apenas no início do século XX, com a valorização da lã no mercado internacional. Entre o final da década de 80 e meados da década de 90, porém, ocorreu a chamada crise da lã, com aumento dos estoques internacionais e o advento das fibras sintéticas. Como resultado, o preço da lã despencou, mudando o perfil da atividade no Rio Grande do Sul. O rebanho diminuiu, assim como a produção de lã, e o mercado da carne tornou-se o objetivo principal dos produtores. Anos mais tarde, a região voltou a produzir lã, mas em números menos expressivos.
A ovinocultura ocupa a região da Campanha Gaúcha e divide espaço com a bovinocultura de corte extensiva, conforme levantamento do Cepea/CNA. As raças encontradas são as de dupla aptidão (para a produção de carne e de lã). Nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, embora não haja um rebanho numeroso, a ovinocultura é mais técnica, com a produção voltada para atender à demanda interna de carnes especiais. Nesses estados, o rebanho tem aumentado e a atividade possuiu um viés mais profissional comparado a outras regiões. A produção do estado de Mato Grosso do Sul também é quase toda abatida em São Paulo. Apesar da maior tecnificação, a atividade ainda é pouco explorada, havendo, assim, potencial expressivo para desenvolver-se.
Mercado e Importação
O aumento do poder aquisitivo dos brasileiros ampliou o consumo de proteína animal. Para a carne ovina, a demanda vem crescendo principalmente nos grandes centros da região Sudeste. Embora ainda não tenha se tornado um hábito nas refeições das famílias brasileiras, o produto está ganhando espaço em restaurantes e churrascarias.
Por uma questão organizacional da cadeia, a produção brasileira de ovinos ainda não abastece o mercado doméstico com eficiência e qualidade. Um dos maiores problemas está relacionado à falta de uma oferta constante, o que dificulta a estruturação de todo o setor, incluindo a formação de escalas de abate. Com isso, a importação de carne ovina se torna necessária. Em 2013, o Brasil importou aproximadamente nove mil toneladas, sendo quase a totalidade proveniente do Uruguai (o país consegue oferecer um produto com qualidade e preços competitivos em relação ao brasileiro). A carne caprina, por sua vez, ainda é pouco consumida no país, exceto na região nordestina, onde o hábito é mais comum.
Mundo
Os maiores rebanhos efetivos de pequenos ruminantes no mundo estão na Ásia e África, segundo a FAOestat. China, Índia e Nigéria possuem, respectivamente, os maiores rebanhos de ovinos e caprinos. O Brasil ocupa a 18º posição do ranking mundial, com aproximadamente 31 milhões de cabeças entre as duas categorias. O número ainda é pouco expressivo tendo em vista que o país se mostra cada vez mais eficiente produtor e exportador de proteínas de origem animal para o mundo.
O comércio mundial de carne de ovinos e caprinos tem pequena participação sobre a produção mundial. Isto é, grande parte do rebanho ainda é destinada ao consumo interno de cada país. Entre os maiores exportadores mundiais de carne ovina estão a Nova Zelândia e a Austrália. Já a França é o maior importador.
Fonte: Equipe Caprinos e Ovinos/Cepea