A escassez de água dificulta a produção de volumosos e pastagens, mesmo assim, é possível produzir em regiões tão duras
Inegavelmente, a África do Sul é um país de contrastes, onde vida selvagem e pecuária convivem lado a lado. O clima é seco, com precipitações anuais de 200 a 400 mm nas regiões mais secas, e temperatura muito quente de dia e fria à noite. Consequentemente, a baixa umidade relativa favorece muito a ovinocultura de corte e de produção de lã.
Por outro lado, a escassez de água dificulta a produção de volumosos e pastagens, o que não ocorre aqui no Brasil, com exceção do semi-árido da região Nordeste. Mas, afinal, como o sul-africano consegue produzir em regiões tão duras? Sem dúvidas, cinco fatores devem ser considerados e estes serão explicados detalhadamente abaixo.
Afinal, o intercâmbio tecnológico entre criadores, regiões e países é de extrema importância. Tanto que as raças Dorper e White Dorper têm muito a oferecer e cabe aos criadores conhecerem bem a bioclimatologia de sua região e, assim, fazerem as adaptações necessárias.
1. Ambiente e pastagens sul-africanas
Devido ao clima seco, a maior parte da vegetação é composta de gramíneas nativas resistentes a períodos de estiagem e arbustos, em sua maior parte leguminosos, estes adaptados a reter mais água. Portanto, suportam melhor que as gramíneas em longos períodos de estiagem.
Ademais, na região Norte está o deserto do Kalahari, mais seco e com menor densidade na reserva de pasto, o que evita a degradação tanto por seca quanto por excessivo número de animais no pasto.
As maiores planícies e savanas localizam-se na região central. Chove um pouco mais e são locais de lavouras e pecuária. Destaca-se a região do Karoo, rica em minerais, e cuja vegetação, uma mescla de gramíneas e arbustos, conferem um sabor diferenciado e valor agregado às carnes ovinas e bovinas produzidas na localidade.
Por fim, nas regiões Sul e Sudeste ocorrem grandes precipitações anuais, e possuem um misto de pastagens com gramíneas, arbustos e savana alta com maior presença de árvores.
2. Produção de volumoso e pastos
Existem poucos rios e cursos de água na África do Sul. Porém, todos os que foram observados eram cinturões verdes para a produção de uvas para vinho, produção de grãos e volumoso para alimentação animal, principalmente alfafa.
O uso de pivô central é comum, principalmente nas bacias leiteiras na região central e Sudeste. Em vários deles foram observados o repasse de final de lavoura com ovinos para terminação ou grupo de ovelhas em reprodução.
As fazendas que têm condições fazem reserva de volumoso e outras compram de produtores de feno e alfafa. Mas a grande parte desta produção é destinada às fábricas de ração da África do Sul.
3. Fábrica de ração
Devido à dificuldade de obtenção de volumoso, a ração sulafricana é feita como uma ração completa. Ela é composta por feno de gramíneas, feno de alfafa, grãos energéticos (milho) e protéicos (soja) e premix mineral e vitamínico. É um produto colocado diretamente no cocho, usado tanto na suplementação nas fazendas quanto na preparação de animais de exposição e venda e confinamentos de engorda, variando sua formulação conforme categoria e finalidade exigida.
Na fábrica, montanhas de feno ficam aguardando para a moagem e incorporação de outros ingredientes, que vão para uma peletizadora especial para a boa formação do pellet da ração. Todos os confinamentos visitados forneciam essa ração completa. Não se via cocho para volumosos, o que se mostrou prático em termos de mão-de-obra, manejo e performance dos animais.
4. Suplementação nas fazendas e manejo extensivo de pasto
As suplementações nas fazendas sul-africanas são feitas para preparação de animais de venda e pista e para rebanhos que necessitam no período seco. Isto mostra que os produtores tratam os animais tanto para exprimir todo o potencial genético daquele animal, bem como para suprir a necessidade de suporte em épocas difíceis, para manter a performance produtiva dos animais, uma vez que a maioria dos produtores vive da atividade.
5. Água e mineralização
A dificuldade na oferta de água faz com que os animais tenham de caminhar bastante na maioria das propriedades, e em praticamente todas a água é proveniente de poços semi-artesianos bombeados por energia eólica (cata-ventos).
A salinidade da água em diferentes regiões é levada em consideração, variando os níveis de cloreto de sódio (sal) nas formulações dos minerais ofertados aos rebanhos.