Solo fértil para produção de alimento, animais mais rústicos e falta de mão-de-obra qualificada são só algumas das características apontadas pelos criadores da região
Dando continuidade na Série “O Dorper no Brasil”, hoje vamos falar sobre como é a criação no Sul do país. Antes de mais nada vale ressaltar que essa sequência de reportagens especiais tem como objetivo abordar as diferenças nas criações das raças Dorper e White Dorper em quatro regiões do país. Sendo, portanto, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste.
Para essa reportagem, conversamos com criadores de cada um dos estados do Sul. São eles: Pedro Rocha de Abreu Filho, presidente da Associação Paranaense de Criadores de Ovinos (Ovinopar) e titular da Cabanha Poncho Molhado, de Mandirituba, no Paraná; Luiz Artur Legal, da Cabanha Legal, de Itajaí, Santa Catarina; e Marco Aurélio Sanchotene, que está à frente da Cabanha Dorper Obelisco, localizado em Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul.
Sendo assim, não perca tempo e confira as entrevistas abaixo:
Principais vantagens da criação no Sul
Diferentemente do que ocorre no Nordeste, no Sul a oferta de alimentação é abundante. Isso porque, de acordo com Luiz Artur Legal, o inverno propicia algumas espécies de forragens, como, por exemplo, a aveia e azevém. “No frio, a região consegue manter pastagens muito ricas. Com teores de proteína de 16%, melhor do que apresentado no verão. No meu caso, por estar numa região litorânea, mas com solo bem fértil, a nossa pastagem é muito rica. A gente tem uma oferta de forragem muito grande por conta da umidade do calor ao longo do ano”, cita o criador catarinense.
Marco Aurélio Sanchotene acrescenta dizendo. “No inverno, por incrível que pareça, é quando temos mais fartura de alimento. Isso em função das culturas que a gente tem, a aveia e o azevém. O verão é mais crítico por ser seco. Mas aí a gente trabalha com áreas irrigadas para suprir o pasto”, menciona o criador gaúcho.
Paralelo a isso, Pedro Rocha acredita que o potencial agrícola das terras da região acaba competindo, de certa forma, com a pecuária ovina. Afinal, a utilização de grandes áreas para a ovinocultura não é viável, devido ao alto poder de eficiência na agricultura. “Isso não quer dizer que a ovinocultura seja uma pecuária que não traga resultados. É, sim, uma atividade em pleno crescimento. No entanto, necessita de organização para conseguir produzir em certa escala. E, assim, fazer parte da cadeia produtiva da proteína”.
Como solução, Pedro vê que as pequenas áreas propiciam boa rentabilidade. “Isso desde que se produza o alimento na propriedade. Já em uma escala industrial, se faz necessário a utilização de área maiores. As quais competem diretamente com a agricultura, mas isso pode ser corrigido partindo de um bom manejo e consórcio das atividades”, explica.
Animais mais rústicos
Marco Aurélio Sanchotene enxerga que o Dorper criado no Sul é mais rústico em função do clima. Haja vista que a variação de temperatura é muito grande. De 37ºC de máxima no verão, a temperaturas até negativas no período de inverno. Além do frio, há muita umidade na região, o que aumenta muito a pressão de doenças, além de outros problemas sanitários.
“É um animal mais rustico, porque é mais exposto ao frio. Quando comercializamos reprodutores que vão para os rebanhos comerciais, esse reprodutor vai para o campo e não nota a diferença. Não podemos criar um animal confinado e depois levar ele para o campo, onde ele vai ter frio, chuva, geada. Então, tem que ser um animal mais rústico”, explica Marco.
Principais dificuldades na criação do Sul
No quesito principais dificuldades da região, Luiz Artur Legal cita a escalabilidade. “Ou seja, não tem volume o suficiente para abate. Então, não tem estimulo para se abrir abatedouros. A grande maioria dos ovinos no Brasil é abatido de forma ilegal e isso prejudica muito a cadeia. Isso não ocorre só no Dorper, mas com em todas as raças de ovinos”.
Já para Marco a parte comercial é a principal dificuldade. “É uma demanda muito grande, às vezes, de reprodutores baratos, sem preocupação com pureza. Só que o reprodutor de baixa qualidade deixa de herança no rebanho por 10 anos, no mínimo. Então, o nosso desafio é mostrar aos criadores que a seleção genética tem um sentido. Que melhora o rebanho, dá melhores cordeiros, consequentemente, mais rentabilidade”.
O que os criadores do Sul sentem faltam?
Para este questionamento, a resposta foi a mesma para os três criadores entrevistados: mão-de-obra qualificada. “Como hoje não tem novos investimentos em criatórios de ovinos, a mão-de-obra está muito envelhecida. Falta ainda uma assistência técnica qualificada, de uma pessoa que conheça ovinos mesmo. Os novos veterinários e zootecnistas estão muito empenhados na pecuária de corte, intensiva, e não tão focando tanto na ovinocultura. É um grande limitador nosso hoje é essa questão”, esclarece Marco.
Especificamente sobre Santa Catarina, Luiz Artur Legal ainda cita que um dos fatores que mais o prejudica na criação é pelo estado ser fechado, dificultando a participação em exposições. Ainda mais porque, segundo ele, no próprio estado não possuem muitas exposições ranqueadas. “Aqui nós temos qualidade de animais para estarmos dentro das exposições, mas a nossa grande dificuldade é retornar ao nosso estado. Por exemplo, ir numa Nacional, sabendo que para retornar para o estado a gente teria que fazer uma quarentena, e isso demora 60, 70, 80 dias, precisando de um refúgio para isolar os nossos animais. Então, isso nos desmotiva”.
Como solução deste problema e de outros para a criação no Sul, Pedro Rocha aponta como primordial a união entre os criadores. “É um fator determinante para ajudar a alavancar o crescimento. Se trabalharmos de forma cooperativa, teremos força de compra, preços melhores, suplementos, etc. Só vamos conseguir superar isto quando estivermos organizados”, finaliza.
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Por Natália de Oliveira/Agrovenki
Crédito das fotos: Divulgação/Cabanha CPM
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